O Novo Testamento brilha com uma perene suficiência por muitas razões, uma das quais é o seu vocabulário. A Bíblia nos fornece palavras que abrangem todo tipo de pecado, tanto antigos quanto modernos. A palavra “sensualidade” usada no Novo Testamento é um desses termos. Ela aparece como um dos termos para o pecado, ao lado da imoralidade sexual, impureza, maus pensamentos, paixão e orgias (Marcos 7.21–22; Romanos 13.13; 2 Coríntios 12.21; Colossenses 3.5). Está relacionada a estes, mas é distinta. A sensualidade está mais ligada aos pensamentos de gratificação e satisfação do desejo sexual através dos cinco sentidos.<1>
Uma maneira de enquadrar biblicamente esse pecado é considerar como a sensualidade é o “temor a homens” que se tornou sexualizado. O que eu quero dizer é isso: uma mulher sensual experimenta uma sensação escravizadora de prazer através de sua capacidade imaginada de atrair os sentidos de um homem. Ela imagina como suas características físicas, personalidade ou mesmo seus atributos espirituais agradariam um homem (que não é seu marido) de tal maneira que ele a desejasse fisicamente.
Embora essa seja uma forma de luxúria, porque deseja a excitação da atenção sexual, o prazer pecaminoso está mais concentrado no pensamento orgulhoso e focado nas pessoas. Talvez ela nem deseje o próprio homem. Ela quer, principalmente, ser desejada por alguém que estima. Isso é temor a homens, sexualizado—ansiando pela atenção, adoração e aprovação de um homem em um contexto sexual. E essa luta não é discriminada pelo estado civil: mulheres solteiras e casadas são tentadas pelo mesmo desejo orgulhoso de glória e poder.
Estes são alguns exemplos de sensualidade:
Assistir cenas íntimas/sexuais de filmes <2> e imaginar-se como a bela heroína que é desejável e, portanto, poderosa;
Alimentar fantasias sexuais;
Querer ser “sexy”, conforme definido pelo mundo; desejar ser romanticamente desejada;
Ler histórias eróticas <3>;
“Imaginar-se como a sedutora, alguém que vira a cabeça das pessoas e é o centro das atenções; alguém que é percebida e lembrada” <4>.
Esse desejo pode alimentar o uso de pornografia por uma mulher <5> e o envolvimento na imoralidade sexual. No entanto, mesmo que seu pensamento sensual não tenha escalado para essas áreas, ainda é pecado. Deus nos dá a palavra “sensualidade” para identificar o problema, e Ele nos dá a oportunidade de lidar com esse pecado no nível de nossos pensamentos antes que tenhamos consequências muito mais significativas a sofrer. Que Deus misericordioso e bondoso nós servimos!
Então, como uma mulher pode combater esse monstro insidioso em sua mente?
Veja o pecado da sensualidade
É errado obter prazer imaginando-se como um objeto de desejo sexual para alguém que não seja seu marido. É errado fantasiar sobre o poder e a glória que você poderia obter gratificando as preferências de um homem. Reveja as referências do Novo Testamento à sensualidade (Marcos 7.21–23; Romanos 13.13; 2 Coríntios 12.21; Gálatas 5.19; Efésios 4.19; 1 Pedro 4.3; 2 Pedro 2.2, 18; Judas 4) e ore pela ajuda do Espírito Santo para ver a maldade desse pecado: como a sensualidade flui do seu coração, e é suja e má. Reconheça que seus pensamentos estão focados em agradar um homem e não em honrar e obedecer a seu Pai Celestial.
Confesse e Abandone
Deus convida você a se arrepender, confessando e abandonando o pecado da sensualidade. Ao confessar, considere:
Como sua energia mental está focada em agradar o homem, em vez de exaltar e glorificar a Deus;
Como você ama a glória que vem do homem se deliciando com sua beleza, habilidades ou personalidade, em vez de se deliciar com Deus e apontar outras pessoas para Ele;
Como você ama o poder que o mundo atribui a características físicas ou a certos traços de personalidade;
Como você é tentado a “purificar” esse pecado (“Isso está em minha mente; eu sou apenas um romântico sem esperança; eu não estou assistindo pornografia, então tudo bem”).
Depois de confessar, você deve eliminar o combustível da sensualidade. Isso significa remover as tramas e figuras que alimentam seus pensamentos pecaminosos, além de renovar sua mente para combater o combustível mental que você já armazenou (veja os próximos passos).
Acione o poder da sua imaginação para adorar a Deus
Ao ver a sensualidade da perspectiva de Deus e admitir o poder que ela tem sobre sua mente, você deve se apegar à esperança do evangelho. Deus limpa aqueles que pedem Seu perdão (1 João 1.9), e dá poder a Seus filhos para obedecê-Lo (João 15.5; 1 Tessalonicenses 5.23–24; Romanos 8.13). Em vez de usar o poder da sua imaginação para se envolver no pecado, você deve aprender a usar sua imaginação para adorar a Deus. Os puritanos descreveram uma maneira de fazer isso como “meditação ocasional”. Podemos usar as situações e circunstâncias cotidianas que enfrentamos como ocasiões para elevar nossos corações a Deus e considerar Sua bondade, poder e glória. O puritano Thomas Gouge escreveu que a mediação ocasional “é uma repentina fixação da mente em algum assunto proveitoso, ocasionado por algo que vemos ou ouvimos... será um meio especial de manter fora do seu coração pensamentos mundanos, devassos e ociosos”.<6>
Um exemplo de meditação ocasional é o seguinte. Quando você achar que seus pensamentos estão vagando em direção a como agradar a um homem, reconheça a tentação e, em seguida, se force a pensar em Deus: Deus criou o sexo e o prazer físico no casamento como uma bênção para seu cônjuge, como um presente que aponta para o próprio Deus. Somente Deus deve ser o objeto de nossas afeições. Os Salmos nos encorajam a “provar e ver que o Senhor é bom” (Salmo 34.8), a “beber do rio das ” (Salmo 36.8) e a satisfazer nossa alma em Deus como “com alimentos gordurosos e ricos” (Salmo 63.3). A intensidade da intimidade sexual é um reflexo embaçado do eterno prazer de estar unido a Cristo. Nosso corpo é feito para o Senhor e nós que estamos unidos ao Senhor nos tornamos um espírito com Ele (1 Coríntios 6.17). Que privilégio temos de conhecer nosso Deus Santo e Criador, e ter comunhão com Ele! Esse prazer é muito superior a qualquer imaginação fugaz de agradar a um homem.
Abasteça seus pensamentos com promessas e verdades
Ver a glória de Deus não apenas traz deleite à nossa alma, mas também muda nosso caráter (2 Coríntios 3.18). Contemplar a glória e a beleza do Senhor em Sua Palavra é o principal alimento de nossa alma. À medida que as mulheres sensuais deixam de se concentrar em si mesmas e pensar em como atrair homens sexualmente, elas devem se saturar com imagens do caráter e promessas gloriosas de Deus. Uma dessas promessas-chave é encontrada em Mateus 5.8—Jesus declara que os puros de coração verão a Deus. Aqueles que são puros em seus corações, incluindo pensamentos, imaginações e desejos, verão a beleza de Deus. “A maneira de combater a luxúria é alimentar a fé com a promessa preciosa e magnífica de que os puros de coração verão, cara a cara, o Deus da glória que tudo satisfaz”.<7>
Há esperança na Palavra de Deus para a mulher aprisionada na sensualidade. Em vez de encher sua mente com pensamentos sensuais sobre como agradar um homem, ela pode encher seus pensamentos com o caráter e a beleza de seu noivo celestial. Ela pode estudar o que Lhe agrada. Ela pode se alegrar ao imaginar como o Senhor dos Exércitos é verdadeiramente sua “porção e tesouro”.<8>
Questões para reflexão
Como você pode usar sua imaginação para alimentar a adoração a Deus? Quando você é mais tentada a se entregar a pensamentos sensuais?
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Este post, de autoria de Andrea Lee, foi originalmente publicado no blog da Biblical Counseling Coalition. Traduzido por Gustavo Santos e revisado por Lucas Sabatier. Publicado mediante autorização.
*Os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos aqui publicados são de responsabilidade dos autores originais, não refletindo, necessariamente, a opinião da direção e membros da ABCB em sua totalidade.
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<1> Martha Peace e Kent Keller, Modesty: More Than a Change of Clothes (Phillipsburg: P&R Publishing, 2015), 53.
<2> Kelly Needham, “Sexual Lust and Women,” Biblical Counseling Center, postado em Fev. 16, 2017, https://biblicalcounselingcenter.org/sexual-lust-women/ (accessed July 17, 2018).
<3> Rachel Coyle, “The Taboo Topic: Pornography and Women” em Women Counseling Women, ed. Elyse Fitzpatrick (Eugene: Harvest House, 2001), 281.
<4> Helen Thorne, “Women and Pornography,” Journal of Biblical Counseling 31:3 (2017), 35.
<5> Ibid.
<6> David Saxton, God’s Battle Plan for the Mind (Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2015), 40.
<7> John Piper, Future Grace (Sisters, OR: Multnomah, 1995), 338.
<8> David Saxton, God’s Battle Plan for the Mind, 82.
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