O vício sexual, ou qualquer outra nomenclatura que usemos, continua sendo uma dinâmica desafiadora de aconselhamento. Apesar das ‘nuances’ e das sutilezas não tão sutis do vício sexual, aplicar o conceito puritano de “satisfação da carne” pode refrescar e redirecionar os conselheiros bíblicos.
Deve-se notar que nem o vício sexual, ou a variação mais recente sobre seu tema, conhecida como transtorno de atividade hipersexual, foram incluídos na última atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V). Consequentemente, a comunidade de aconselhamento secular, que no momento olha para fora, para o comportamento humano, para análise, está olhando ansiosamente para a frente, para o refinamento da nomenclatura diagnóstica para problemas de dependência sexual. Ao contrário, o esforço do aconselhamento bíblico é olhar para dentro no momento da análise; isto é, a natureza divina da tentação (1 Coríntios 10.13) e os desejos em nossa mente e coração (Tiago 1.13–15). Além disso, este autor está olhando para o passado em busca de inspiração, e para o pastor puritano Richard Baxter e sua sabedoria a esse respeito.
O modelo de Baxter vem de sua obra extraordinária, A Christian Directory. Filtrar os desafios do vício sexual por meio de uma perspectiva puritana destaca, intencionalmente, o indivíduo em vez de sua condição. Essa lente puritana traduz com eficácia o vício sexual como um “prazer da carne”, e mostra que este é o Pecado Mestre, o maior e mais devorador ídolo que já foi levantado contra Deus.
Para esse fim, Baxter identifica o prazer sexual da carne como injustiça (1 Coríntios 6.9–10) e, em seguida, trata-o como pecado contra nossos próprios corpos (1 Coríntios 6.15–20). Ele o descreve como imoralidade sexual, impureza e cobiça (Efésios 5.3–6), e ainda o define como obras evidentes da carne (Gálatas 5.19; 6.8), bem como uma vida que não agrada a Deus (1 Tessalonicenses 4.3). As lutas sazonais para agradar à carne são revistas no passado (Judas 7) e resignadas ao julgamento futuro (Apocalipse 21.8; 22.15).
Baxter aponta que a lascívia é viciada à variedade. Ele sugere que se os prazeres do corpo são os prazeres predominantes nos quais somos mais viciados, então o corpo governa a alma, e pereceremos como traidores de Deus que destroem Sua imagem (Romanos 8.13). Baxter ressalta a devastação do comportamento viciante sem deixar de lado a responsabilidade pessoal e a prestação de contas. Ele resume os prazeres da carne como impiedade, que é a própria rebelião da natureza corrompida, o virar de todas as coisas de cabeça para baixo, e a derrubada de Deus, do céu e da razão para conceder extrema liberdade à carne.<1>
O que é a noção?
Uma visão ampla do vício sexual na comunidade de aconselhamento secular inclui um diagnóstico, plano de tratamento, terapia cognitivo-comportamental, medicação e a noção de recuperação para o gerenciamento de problemas. Semelhantemente, em um olhar amplo do entendimento de Baxter que vise a estruturação do aconselhamento bíblico, podemos identificar a luxúria e a adoração defeituosa, confissão e arrependimento, a Trindade e a verdade da vitória como ministério para resolução de problemas.
Os três pilares de Baxter em sua construção dos prazeres da carne e da luxúria associada a impureza são sua interpretação do próprio apetite sexual desordenado, a violência e a disposição indisciplinada do apetite sexual, e a obediência real ao apetite sexual por meio de comportamento ilícito.
O que é necessário
Baxter escreve que um coração inclinado a agradar a carne pode ser detectado: Quando nos importamos mais com nosso corpo do que com nossa alma; quando não podemos negar a nós mesmos e devemos satisfazer nosso deleite custe o que custar; e quando amamos a companhia dos sensuais mais do que a comunhão dos santos.
A seguir, Baxter fornece diretrizes gerais para aqueles que são escravizados pelo prazer da carne:
Ame, busque, e agarre, pela fé, as coisas de Deus; familiarize-se com a gama de desejos sensuais e suas extravagâncias; perceba que a razão mantém sua autoridade como governadora dos sentidos e do apetite; saiba que agradar a carne é o maior obstáculo para a salvação.
Baxter, então, oferece essas orientações específicas e esses passos práticos para aqueles de nós presos pelo desejo de agradar a carne e que buscam se libertar:
Em primeiro lugar, jejue e se abstenha; preste atenção à ociosidade—é o solo, a cultura e a oportunidade para a luxúria; evite os objetos tentadores, pois eles levam a chave do nosso coração e roubam nosso tesouro com o nosso consentimento; faça um pacto com seus olhos de não contemplar nenhum objeto atraente; abomine a prática de cobrir a luxúria com nomes bonitos para torná-la mais aceitável; e confesse e se humilhe diante de um amigo buscando por seu conselho.<2>
O que vem em seguida?
Baxter pontua seu conselho aos que agradam à carne com um lembrete de que agradar à carne é a grande causa de nossas aflições, portanto devemos dominar e mortificar a carne sem demora. Ele também nos exorta a lutar mais contra nossa própria carne do que contra todos os nossos inimigos na Terra e no Inferno. Ele reforça que Cristo sofreu na carne para nos dizer que não devemos esperar mimos, mas sofrimento, se esperaramos um dia reinar com Ele.
Apesar de qualquer percepção de uma versão excessivamente simplificada de uma questão complexa, os conselhos puritanos sobre este assunto são realmente preciosos. Um vislumbre do passado repleto de graça muitas vezes nos ajuda a lançar, ou simplesmente reformular, nosso paradigma para o presente, bem como nossa visão para o futuro. É revigorante ter a liberdade aparentemente secular de um diagnóstico examinada pelas lentes da liberdade em Cristo inerente às Escrituras. Baxter vai ao coração da questão, que é, de fato, o coração do homem—o marcador principal para o conselheiro bíblico, bem como para o aconselhado.
Questões para reflexão
Qual é a sua teologia do vício sexual/prazer da carne? Você já experimentou um comportamento sexualmente viciante? Em caso afirmativo, ajudou ou atrapalhou sua metodologia de aconselhamento para o vício sexual/prazer da carne?
Este post, de autoria de Donn Northup, foi originalmente publicado no blog da Biblical Counseling Coalition. Traduzido por Gustavo Santos e revisado por Lucas Sabatier. Republicado mediante autorização.
*Os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos aqui publicados são de inteira responsabilidade dos autores originais, não refletindo, necessariamente, a opinião da direção e membros da ABCB em sua totalidade.
<1> Richard Baxter, The Christian Directory (Morgan: PA, Soli Deo Gloria Publications, 1996), 222–230.
<2> Ibid, 330–338.
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